25 de abr. de 2005

"E no princípio..."

... eu pensei em criar um blog. Mas isso já faz muito tempo, aliás foi antes de achar que poderia redigir um. Porém não demorou pra que eu percebesse o impulso como um bem intencionado porém desnivelado espelho que apenas tentava refletir o sucesso que alguns companheiros obtiveram nesta empreitada. Então já não me parecia um blog e sim um eco, uma simples repetição do que lera e me impressionara no período que estes contrapontos aos diários secretos surgiram nas vitrines luminosas de 14 polegadas. Por isso o tal blog não havia saído dos planos ainda, a saber, até o dia em que meus esbarrões com os inúmeros paradigmas que como um lôdo crescem e parasitam a cosmovisão da minha geração, embotando-lhes os sentidos e arraigando-lhes as almas num abismo de areia movediça chamado pós-modernismo, tornaram-se verdadeiros sangue-sugas que me roubavam a esperança de ver um futuro que refletisse a expressão viva do potencial congênito que a nós foi confiado. É, subitamente chegou o dia em que não pude mais ficar atônico, calado e indiferente ao que acontecia ao meu redor. Um inconformismo visceral me tomou de assalto e desde este momento encontrei a razão para abrir minha mente, como uma bandeja que oferece meu próprio coração a quem correr os olhos por estas despretensiosas linhas. Fui atingido pela gota que transbordou minha caixa d'água e agora ela deveria jorrar, embora eu não soubesse que leitos suas torrentes percorreriam.

Alguns dias - até meses, não sei - passaram-se até que os grandes Rafael Dias e Junia Vaz mostraram-me o caminho até aqui, talvez sem saber que estariam passando às minhas mãos um bilhete só de ida rumo ao imprevisível, ao inevitável, ao tão esperado e temido passo rumo ao crivo de olhos sedentos por algo que valha a pena beber. E que não só refresque, mas sacie. Neste ponto devo por respeito ser franco e direto: há um apenas que pode saciar, apenas uma mente que é mais insondável que as profundezas de um oceano. E não sendo nem de longe eu, é porém o meu esteio, no qual mergulho cada vez mais fundo em busca das porções que calem a voz da sede tão minha quanto da minha geração. Por isso estou aqui. Por isso - atrevido - me meto a escrever estas coisas a partir de hoje!

E quem sabe tudo isso não seja aquele simples eco... quem sabe alguém que você conhece já exprime este mesmo sentimento, fazendo-o compreendido com maior ou menor esmero, com mais ou menos sucesso...

... e exatamente por isso, por saber que pode haver melhor ou pior mas nunca ninguém igual, é que resolvi tirar o blog dos planos e torná-lo um embrião em minha própria cabeça, preparando o dia em que ele enfim seria algo virtualmente real. Eis que chegou o dia. Faço deste instrumento um elemento para soma, e assim sinto-me útil neste embate contra a inércia destruidora que engole a muitos e nivela precocemente ricos e pobres, cultos e leigos, quase-vivos e quase-mortos.

Ecce blog, que tenha algum préstimo.