... eu pensei em criar um blog. Mas isso já faz muito tempo, aliás foi antes de achar que poderia redigir um. Porém não demorou pra que eu percebesse o impulso como um bem intencionado porém desnivelado espelho que apenas tentava refletir o sucesso que alguns companheiros obtiveram nesta empreitada. Então já não me parecia um blog e sim um eco, uma simples repetição do que lera e me impressionara no período que estes contrapontos aos diários secretos surgiram nas vitrines luminosas de 14 polegadas. Por isso o tal blog não havia saído dos planos ainda, a saber, até o dia em que meus esbarrões com os inúmeros paradigmas que como um lôdo crescem e parasitam a cosmovisão da minha geração, embotando-lhes os sentidos e arraigando-lhes as almas num abismo de areia movediça chamado pós-modernismo, tornaram-se verdadeiros sangue-sugas que me roubavam a esperança de ver um futuro que refletisse a expressão viva do potencial congênito que a nós foi confiado. É, subitamente chegou o dia em que não pude mais ficar atônico, calado e indiferente ao que acontecia ao meu redor. Um inconformismo visceral me tomou de assalto e desde este momento encontrei a razão para abrir minha mente, como uma bandeja que oferece meu próprio coração a quem correr os olhos por estas despretensiosas linhas. Fui atingido pela gota que transbordou minha caixa d'água e agora ela deveria jorrar, embora eu não soubesse que leitos suas torrentes percorreriam.
Alguns dias - até meses, não sei - passaram-se até que os grandes Rafael Dias e Junia Vaz mostraram-me o caminho até aqui, talvez sem saber que estariam passando às minhas mãos um bilhete só de ida rumo ao imprevisível, ao inevitável, ao tão esperado e temido passo rumo ao crivo de olhos sedentos por algo que valha a pena beber. E que não só refresque, mas sacie. Neste ponto devo por respeito ser franco e direto: há um apenas que pode saciar, apenas uma mente que é mais insondável que as profundezas de um oceano. E não sendo nem de longe eu, é porém o meu esteio, no qual mergulho cada vez mais fundo em busca das porções que calem a voz da sede tão minha quanto da minha geração. Por isso estou aqui. Por isso - atrevido - me meto a escrever estas coisas a partir de hoje!
E quem sabe tudo isso não seja aquele simples eco... quem sabe alguém que você conhece já exprime este mesmo sentimento, fazendo-o compreendido com maior ou menor esmero, com mais ou menos sucesso...
... e exatamente por isso, por saber que pode haver melhor ou pior mas nunca ninguém igual, é que resolvi tirar o blog dos planos e torná-lo um embrião em minha própria cabeça, preparando o dia em que ele enfim seria algo virtualmente real. Eis que chegou o dia. Faço deste instrumento um elemento para soma, e assim sinto-me útil neste embate contra a inércia destruidora que engole a muitos e nivela precocemente ricos e pobres, cultos e leigos, quase-vivos e quase-mortos.
Ecce blog, que tenha algum préstimo.